Terapias de Terceira Onda para Transtornos de Ansiedade e Depressão

Matheus Santos • 1 de março de 2025

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As Terapias de Terceira Onda têm ganhado cada vez mais destaque no campo da Psicologia por sua eficácia na abordagem de transtornos de ansiedade e depressão. Essas terapias trazem uma perspectiva inovadora ao integrarem práticas de aceitação, mindfulness (atenção plena) e valores pessoais no tratamento, em vez de focarem somente na modificação de pensamentos. O objetivo deste artigo é apresentar uma visão aprofundada sobre essas abordagens, mostrando como e por que elas podem ser uma excelente opção tanto para profissionais quanto para pacientes que buscam resultados mais sólidos e duradouros.

Além disso, vamos discutir aspectos importantes relacionados ao contexto clínico, destacando como as Terapias de Terceira Onda podem ser aliadas à Neuropsicologia e à Avaliação Neuropsicológica, especialmente na compreensão das funções cognitivas que podem estar impactadas em transtornos de ansiedade e depressão. No decorrer do texto, você encontrará links para nosso blog da IC&C, onde você pode se aprofundar em temas complementares, e no final faremos um convite especial para você conhecer nossa Formação Permanente.


O que são as Terapias de Terceira Onda?


Para entender por que as Terapias de Terceira Onda são tão importantes, é fundamental conhecer seu contexto histórico e teórico. A Psicologia Comportamental passou por diversas evoluções ao longo do tempo:


  1. Primeira onda: Enfatizava o Comportamentalismo Clássico, voltado para a modificação direta do comportamento observável, com base em condicionamento clássico e operante.
  2. Segunda onda: Com o advento da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a ênfase passou a incluir a reestruturação cognitiva, visando identificar e alterar pensamentos disfuncionais.
  3. Terceira onda: Surge como uma resposta à limitação da simples mudança de pensamentos e comportamentos, incorporando processos como aceitação, atenção plena, valores pessoais e flexibilidade psicológica.

O cerne das Terapias de Terceira Onda está em aprender a lidar com pensamentos e emoções, em vez de tentar controlar ou suprimir esses processos internos. Entre as abordagens de maior destaque, podemos citar:


  • Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
  • Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT)
  • Dialectical Behavior Therapy (DBT)
  • Compassion-Focused Therapy (CFT)


Cada uma dessas abordagens tem nuances e técnicas específicas, mas todas compartilham o objetivo de ampliar a consciência sobre o momento presente, desenvolver aceitação em relação às experiências internas e alinhar comportamentos aos valores pessoais.


Por que são eficazes para ansiedade e depressão?


Tanto a ansiedade quanto a depressão são condições com alta prevalência na população e podem causar significativo prejuízo na qualidade de vida. Questões como cognições distorcidas, alterações nos níveis de energia, desmotivação e preocupações excessivas são comuns em ambos os transtornos. Nesse cenário, as Terapias de Terceira Onda se mostram efetivas porque:


  • Promovem o mindfulness: Grande parte do sofrimento em ansiedade e depressão vem de estar preso ao passado ou ao futuro. A prática de atenção plena ajuda a ancorar a pessoa no presente, reduzindo ruminações e preocupações.T
  • Enfatizam a aceitação: Em vez de combater pensamentos negativos, o indivíduo aprende a coexistir com eles de forma saudável, diminuindo a intensidade do sofrimento e evitando que esses pensamentos se transformem em barreiras para suas metas.
  • Focam nos valores pessoais: Muitas vezes a pessoa com ansiedade ou depressão perde o sentido de suas atividades. Reconectar-se com seus valores possibilita que ela retome atividades com propósito, contribuindo para a melhora do humor e do bem-estar geral.
  • Estimulam a flexibilidade psicológica: Em vez de padrões rígidos de pensamento e comportamento, as pessoas aprendem a se adaptar de forma mais criativa às circunstâncias, reduzindo comportamentos de esquiva ou evitação.


Para quem deseja aprender mais sobre como integrar essas práticas em avaliações e intervenções psicológicas, recomendamos a leitura de outros artigos em nosso blog da IC&C, onde discutimos temas como Avaliação Psicológica e Avaliação Neuropsicológica em casos de ansiedade e depressão.


Principais abordagens em Terapias de Terceira Onda

1. Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)


A ACT baseia-se no desenvolvimento de uma atitude de aceitação frente às experiências internas (pensamentos, emoções e sensações) e no comprometimento com ações alinhadas aos valores pessoais. O terapeuta estimula a “desfusão cognitiva”, que ajuda o paciente a perceber o pensamento como algo separado de si, evitando que as crenças disfuncionais ditassem seu comportamento.


Pilares da ACT:

  • Aceitação: Em vez de lutar contra as próprias emoções, aprender a permanecer com elas.
  • Desfusão cognitiva: Reduzir a literalidade dos pensamentos, tratando-os como eventos mentais, não como verdades absolutas.
  • Contato com o momento presente: Usar estratégias de mindfulness para permanecer no aqui e agora.
  • Valores: Identificar e se guiar por aquilo que realmente importa para a pessoa.
  • Ação comprometida: Agir de modo congruente com esses valores, mesmo diante de desconfortos emocionais.


2. Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT)


A MBCT é uma união entre práticas de mindfulness e estratégias da TCC tradicional. O objetivo é evitar recaídas em depressão (embora também seja aplicada a outros transtornos), treinando a atenção para reconhecer sinais iniciais de depressão ou ansiedade e interromper o ciclo de ruminação.

O que é trabalhado na MBCT:

  • Exercícios de atenção plena: Focar na respiração, no corpo e nos sons ao redor, para cultivar um estado de observação neutra.
  • Reconhecimento de gatilhos: Identificar precocemente pensamentos e sensações que indicam uma possível piora do quadro.
  • Trabalhar com autocompaixão: Tratar a si mesmo com gentileza ao notar estados emocionais difíceis, em vez de se culpar por eles.


3. Dialectical Behavior Therapy (DBT)


Originalmente desenvolvida por Marsha Linehan para tratar Transtorno de Personalidade Borderline, a DBT hoje é amplamente aplicada em casos de ansiedade, depressão, automutilação e comportamentos de risco. A terapia integra técnicas de aceitação e mudança, enfatizando habilidades de regulação emocional, tolerância ao estresse, eficácia interpessoal e mindfulness.


4. Compassion-Focused Therapy (CFT)


A CFT parte do pressuposto de que muitas pessoas enfrentam dificuldades em cultivar um senso de calor e cuidado consigo mesmas, especialmente em quadros de depressão, ansiedade e sentimentos de culpa ou vergonha. O foco está em desenvolver uma mentalidade compassiva, que promova suporte interno e reduza a autocrítica.


Como as Terapias de Terceira Onda abordam a ansiedade


1. Vivência controlada das sensações


No caso de transtornos de ansiedade, é comum que o medo ou a preocupação excessiva levem a esquivas constantes. As Terapias de Terceira Onda trabalham justamente a aceitação dessas sensações, permitindo que o paciente experimente o desconforto de forma gradual, percebendo que ele não precisa ser paralisante.


2. Redução da resposta de luta e fuga


A meditação mindfulness ajuda a regular o sistema nervoso autônomo, diminuindo as respostas psicofisiológicas típicas da ansiedade. O paciente aprende a identificar os primeiros sinais de tensão e aplica estratégias de grounding para recuperar a tranquilidade.


3. Distanciamento de pensamentos catastróficos


Um dos maiores desafios em transtornos ansiosos é a catastrofização. A prática de desfusão cognitiva (da ACT) auxilia a ver os pensamentos apenas como “eventos mentais”. Desse modo, o paciente não reage como se a ameaça fosse real e iminente, desenvolvendo maior resiliência e controle sobre suas ações.


Como as Terapias de Terceira Onda abordam a depressão


1. Foco na autocompaixão


A depressão geralmente vem acompanhada de sentimentos de culpa e autodepreciação. Práticas como a CFT (Compassion-Focused Therapy) e a MBCT são especialmente úteis para gerar um olhar mais compassivo e menos crítico em relação a si mesmo.


2. Retomada de atividades significativas


Um dos fatores marcantes na depressão é a perda de interesse ou prazer em atividades cotidianas. As Terapias de Terceira Onda incentivam o resgate de atividades ligadas aos valores pessoais, mesmo quando não se sente vontade ou motivação. Essa “ação comprometida” pode ser o passo inicial para uma mudança positiva.


3. Conscientização do estado mental


A MBCT, em particular, ajuda a desenvolver a habilidade de perceber os primeiros sinais de uma recaída depressiva. Quando o paciente toma consciência de mudanças sutis no humor ou no padrão de pensamento, pode agir rapidamente, antes que o quadro se agrave.



A integração com a Neuropsicologia e a Avaliação Neuropsicológica


A Neuropsicologia e a Avaliação Neuropsicológica oferecem ferramentas preciosas para compreender melhor as funções cognitivas de pacientes com ansiedade e depressão. Por meio de testes e observações clínicas, é possível mapear áreas de dificuldade, como atenção, memória e funções executivas. Esse mapeamento:


  • Identifica déficits cognitivos que podem estar relacionados ao transtorno.
  • Auxilia na elaboração de um plano terapêutico mais individualizado, considerando limitações e pontos fortes do paciente.
  • Monitora a evolução das funções cognitivas ao longo do tratamento, possibilitando ajustes nas estratégias terapêuticas.


O uso conjunto das Terapias de Terceira Onda com a Avaliação Neuropsicológica pode potencializar o tratamento, pois permite que o terapeuta entenda não apenas o estado emocional do paciente, mas também como ele processa informações e responde aos estímulos do ambiente. Para entender mais sobre essa integração, visite nosso blog da IC&C, onde discutimos esses temas com maior profundidade.


Vantagens e indicações das Terapias de Terceira Onda


  • Menor risco de recaída: Por trabalhar aceitação e atenção plena, o paciente desenvolve habilidades para lidar com crises futuras, reduzindo a probabilidade de recaída.
  • Aplicabilidade ampla: Além de ansiedade e depressão, essas terapias podem ser úteis para dor crônica, dependência química, transtornos alimentares e até na melhoria de desempenho em atletas e executivos.
  • Foco na experiência do presente: O treinamento mindfulness ajuda a pessoa a cultivar uma atitude de observação em relação aos eventos internos, reduzindo reações automáticas de fuga ou luta.
  • Fortalecimento de recursos internos: Ao enfatizar valores e autocompaixão, o paciente desenvolve uma atitude mais positiva e resiliente diante de dificuldades.


Dicas práticas para incorporar as Terapias de Terceira Onda na rotina


  1. Reserve alguns minutos para o mindfulness: Mesmo cinco minutos diários de atenção à respiração podem ser um bom começo.
  2. Liste seus valores pessoais: Escreva quais são suas prioridades de vida (relacionamentos, saúde, carreira, espiritualidade etc.) e reflita se suas ações diárias estão alinhadas a esses valores.
  3. Pratique a aceitação: Quando um pensamento negativo surgir, tente apenas observá-lo, sem julgá-lo como certo ou errado. Pergunte-se: “Esse pensamento me ajuda ou me atrapalha a viver de acordo com meus valores?”
  4. Busque suporte profissional: Embora existam excelentes recursos de autoajuda, a orientação de um psicólogo ou neuropsicólogo pode agilizar resultados e adaptar as estratégias para cada situação.
  5. Invista em autoconhecimento: Cursos, leituras e participações em grupos de prática podem ajudar a aprofundar as técnicas de mindfulness e aceitação.



Conclusão


As Terapias de Terceira Onda representam uma inovação no tratamento de transtornos como ansiedade e depressão, por aliarem técnicas de aceitação, mindfulness e foco nos valores pessoais. Ao reconhecer que a luta constante contra pensamentos e emoções pode amplificar o sofrimento, essas abordagens oferecem um caminho mais compassivo e efetivo, tornando o paciente protagonista do seu próprio processo terapêutico.


Se você deseja aprimorar suas habilidades clínicas, aprofundar-se nos conceitos de Psicologia, Avaliação Neuropsicológica, Avaliação Psicológica e Terapias de Terceira Onda, convidamos você a estudar conosco na nossa Formação Permanente. Esse programa foi estruturado para fornecer conteúdo atualizado, supervisão profissional e oportunidades de prática real. Não perca a chance de fortalecer a sua atuação na área da saúde mental, contribuindo para uma prática ainda mais qualificada e centrada na pessoa.


Para continuar atualizado(a) sobre esse e outros temas relevantes na área de Neuropsicologia, Terapias Cognitivas e Comportamentais, não deixe de acompanhar nosso blog da IC&C. Lá, você encontra uma variedade de conteúdos voltados ao crescimento profissional e ao bem-estar dos pacientes.


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Por Matheus Santos 1 de agosto de 2025
Se você já estudou ou ouviu falar sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso, provavelmente já se deparou com esta dúvida: Afinal, fala-se "á-ce-tê" ou “équiti”? A resposta, como muitas coisas na Psicologia baseada em evidências, é: depende . Neste texto, vamos explorar de onde vem essa confusão, o que dizem os próprios fundadores da ACT, como essa abordagem é chamada no Brasil e, mais importante, por que o conteúdo da terapia é muito mais relevante do que a forma como a sigla é pronunciada.  O que é ACT? ACT é a sigla para Acceptance and Commitment Therapy, uma abordagem da chamada terceira onda da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Seu objetivo é promover flexibilidade psicológica por meio de processos como: Aceitação experiencial; Desfusão cognitiva; Contato com o momento presente; Clareza de valores; Ação comprometida; E um senso de si como contexto. A ACT propõe que o sofrimento psicológico é intensificado quando tentamos controlar ou evitar experiências internas, como pensamentos, emoções e memórias. Em vez disso, convida o paciente a se abrir à experiência, conectando-se com seus valores mais profundos. Saiba mais: Terapias Contextuais: uma evolução na abordagem da TCC ACT ou “équiti”? De onde vem essa confusão? A sigla ACT vem do inglês, e nos países de língua inglesa costuma ser pronunciada como uma palavra: “act” (como o verbo “agir”), soando algo como “équiti”. No entanto, no Brasil — como acontece com outras siglas — muitas pessoas optam por soletrar: á-ce-tê , seguindo a lógica da pronúncia literal das letras. Essa diferença de pronúncia pode causar estranhamento, especialmente em contextos acadêmicos, congressos ou supervisões clínicas. Mas a verdade é que ambas as formas são utilizadas no Brasil e, o mais importante: não há certo ou errado . O que dizem os fundadores da ACT? Steven C. Hayes, um dos criadores da abordagem, já afirmou publicamente que não se importa com a pronúncia da sigla. Em suas palavras: “Chame do jeito que quiser. O que importa é a ciência por trás da abordagem, não como você fala o nome.” Ou seja: se até o próprio criador da ACT é flexível sobre a pronúncia, talvez nós também devêssemos ser. Por que isso importa menos do que parece A Psicologia baseada em evidências tem como um de seus pilares a clareza conceitual e a comunicação acessível . Mas isso não significa rigidez linguística. A preocupação maior deve ser com: A compreensão dos processos fundamentais da ACT ; A formulação de caso com base em flexibilidade psicológica ; O uso ético e fundamentado da abordagem; E a constante formação e supervisão para uma atuação de qualidade. Seja você do time “á-ce-tê” ou “équiti”, o essencial é colocar os princípios da ACT em prática , com sensibilidade, técnica e respeito à diversidade dos pacientes. Leia também: TCC Transdiagnóstica: uma abordagem integrativa para múltiplos transtornos ACT no Brasil: uma abordagem em expansão A ACT vem ganhando cada vez mais espaço na formação de psicólogos e psiquiatras brasileiros. É usada no tratamento de transtornos como: Ansiedade generalizada; Depressão maior; TOC; Transtorno de personalidade borderline; Dor crônica; E diversos outros contextos clínicos e hospitalares. A abordagem também tem sido estudada e aplicada em contextos educacionais, organizacionais e sociais , mostrando sua versatilidade. Conclusão: fale como quiser, mas conheça profundamente A questão da pronúncia de ACT é legítima, mas secundária diante da importância clínica e científica da abordagem . Seja qual for sua escolha fonética, o importante é continuar estudando, se atualizando e aplicando a ACT com base nos princípios que a tornaram uma das terapias mais promissoras do século XXI. Quer aprofundar seus conhecimentos em ACT, TCC e outras abordagens baseadas em evidências? Participe da nossa Formação Permanente e faça parte de uma comunidade que valoriza ciência, prática clínica e transformação social.
Por Matheus Santos 25 de julho de 2025
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Por Matheus Santos 25 de julho de 2025
A entrevista inicial é uma das etapas mais decisivas no processo psicoterapêutico. Ela não apenas estabelece o vínculo terapêutico, mas também começa a revelar as estruturas cognitivas profundas que sustentam o sofrimento do paciente. Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), essas estruturas são chamadas de crenças centrais – ideias rígidas e globais sobre o self, o mundo e os outros. Mas será que é possível começar a identificá-las logo no primeiro encontro? A resposta é sim – desde que o terapeuta esteja atento aos padrões de linguagem, temas recorrentes e pistas emocionais que emergem na narrativa do paciente. Neste artigo, você vai aprender: O que são crenças centrais e por que elas importam desde o início; Como observá-las já na entrevista inicial; Técnicas e perguntas estratégicas; Exemplos clínicos; Como integrar essas informações na formulação de caso. O que são crenças centrais? Crenças centrais são convicções globais, absolutas e duradouras que a pessoa desenvolve ao longo da vida. São internalizadas especialmente na infância e adolescência, geralmente a partir de experiências emocionais significativas. Estas crenças moldam a maneira como a pessoa interpreta o mundo e reagem às situações do cotidiano. Exemplos: “Sou inferior aos outros.” “As pessoas sempre me abandonam.” “O mundo é um lugar perigoso.” Essas crenças nem sempre são verbalizadas diretamente, mas orientam os pensamentos automáticos e comportamentos disfuncionais que o paciente manifesta no presente. Por que identificar crenças centrais já no início? Embora a reestruturação dessas crenças ocorra em fases mais avançadas da terapia, identificar traços ou pistas logo na primeira sessão pode oferecer grandes benefícios: Antecipar hipóteses de formulação de caso ; Criar aliança terapêutica mais empática , demonstrando compreensão das dores centrais; Ajudar o paciente a dar sentido ao próprio sofrimento desde os primeiros encontros; Direcionar intervenções iniciais mais eficazes , mesmo que não sejam ainda focadas na reestruturação de crenças. Como observar crenças centrais na entrevista inicial? Durante a entrevista, as crenças centrais costumam aparecer de forma implícita , escondidas atrás da queixa principal ou da forma como o paciente conta sua história. Aqui estão alguns sinais importantes para ficar atento: 1. Padrões de linguagem Preste atenção em frases absolutas ou dicotômicas: “Eu sempre estrago tudo.” “Nunca consigo ser bom o suficiente.” “Não posso confiar em ninguém.” Essas expressões sinalizam generalizações cognitivas típicas de crenças centrais. 2. Narrativas repetitivas Quando o paciente retorna várias vezes ao mesmo tipo de evento ou emoção (ex: rejeição, humilhação, abandono), há grandes chances de estar verbalizando conteúdo ligado a uma crença mais profunda. 3. Reações emocionais intensas Se, ao relatar um episódio, o paciente manifesta emoções desproporcionais (choro súbito, raiva intensa, medo paralisante), aquilo pode estar tocando em uma ferida mais antiga – uma crença estruturante. 4. Estilo de apego e história de desenvolvimento Perguntas sobre infância, relacionamentos com cuidadores e figuras importantes costumam revelar temas centrais como valor pessoal, dignidade, amor e segurança. 🧠 Leia também: Formulação de caso na TCC: da hipótese à intervenção estruturada Perguntas estratégicas para acessar crenças centrais Algumas perguntas podem ajudar a revelar, de forma indireta, o conteúdo das crenças centrais logo no início: “Quando isso acontece, o que você acredita sobre você mesmo?” “Que tipo de pessoa você sente que é diante disso?” “O que você teme que esse episódio diga sobre você?” “Que conclusão tirou sobre si mesmo(a) depois desse acontecimento?” “Se fosse uma criança passando por isso, o que ela poderia acreditar sobre si?” Essas perguntas ajudam o paciente a sair da descrição factual do evento e entrar em níveis mais profundos de processamento . Técnica da flecha descendente (early use) Embora usada geralmente em sessões posteriores, a técnica da flecha descendente pode ser aplicada suavemente já na entrevista inicial, com o objetivo de testar hipóteses: Exemplo: Paciente: “Fui demitido, de novo. Acho que nunca vou ser bom o suficiente.” Terapeuta: “E se você nunca for bom o suficiente… o que isso diria sobre você?” Paciente: “Que eu sou um fracasso.” ➡️ A crença central está emergindo: “Sou um fracasso.” Como anotar e usar essas informações Você pode registrar essas pistas como hipóteses iniciais da formulação de caso, com a consciência de que elas serão testadas e aprofundadas ao longo do processo terapêutico. Modelo de anotação prática: - Queixa principal: medo de rejeição profissional - Pensamento automático: “Não vão querer me manter no trabalho.” - Padrões observados: histórico de demissões, evitação de avaliação, hipervigilância - Hipótese de crença central: “Sou incompetente.” - Evidência: linguagem autorreferente depreciativa + experiências passadas Conclusão A identificação precoce das crenças centrais é uma habilidade poderosa para qualquer terapeuta cognitivo-comportamental. Ainda que a reestruturação aconteça mais adiante, reconhecer padrões profundos desde o início da terapia aumenta a eficácia da formulação, fortalece a aliança terapêutica e direciona o plano de tratamento com mais precisão . É como começar a montar um quebra-cabeça sabendo qual imagem final se espera – mesmo que ainda faltem várias peças. 🚀 Quer dominar a identificação e reestruturação de crenças centrais de forma técnica e humanizada?  Participe da nossa Formação Permanente em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e aprofunde sua prática com uma base sólida em ciência, clínica e ética.
Por Matheus Santos 24 de julho de 2025
Na prática clínica com Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), dois conceitos centrais permeiam o raciocínio clínico: crenças centrais e pensamentos automáticos . Embora relacionados, eles operam em níveis diferentes da cognição e exigem estratégias distintas de identificação e intervenção. Neste artigo, vamos esclarecer: O que são crenças centrais e pensamentos automáticos; Como identificar cada um na prática clínica; Diferenças conceituais e funcionais; Técnicas para trabalhar com cada um; Exemplos práticos e formulários úteis; Linkagens com formulação de caso, TCC transdiagnóstica e terceira onda.  O que são pensamentos automáticos? Os pensamentos automáticos são cognições que surgem espontaneamente em resposta a situações do cotidiano. São geralmente breves, rápidos, e podem não ser totalmente conscientes, mas afetam diretamente as emoções e comportamentos. Exemplos: “Vou fracassar nessa entrevista.” “Ela não respondeu — devo ter feito algo errado.” “Não vou conseguir lidar com isso.” Eles são mais fáceis de acessar no início da terapia e servem como ponto de entrada para o trabalho com crenças mais profundas. O que são crenças centrais? As crenças centrais são estruturas cognitivas profundas e duradouras , formadas ao longo da vida, especialmente na infância. São absolutas, globais e muitas vezes inconscientes, funcionando como lentes através das quais a pessoa interpreta o mundo . Exemplos: “Sou um fracasso.” “O mundo é perigoso.” “As pessoas vão me abandonar.” Essas crenças organizam uma série de pensamentos automáticos e são mantidas por esquemas cognitivos disfuncionais.
Por Matheus Santos 21 de julho de 2025
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Por Matheus Santos 21 de julho de 2025
“Não importa o que eu faça, nada vai mudar.” Essa frase resume bem a crença central de desamparo, uma das mais comuns em pacientes que buscam a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Essa crença está na base de quadros como depressão, ansiedade generalizada, fobia social e até transtornos de personalidade. Ela carrega a sensação de impotência diante da vida, como se os eventos fossem incontroláveis ou o indivíduo fosse incapaz de lidar com eles. O que são crenças centrais? As crenças centrais são esquemas cognitivos profundos, rígidos e duradouros. São como "lentes" por meio das quais interpretamos o mundo. Na TCC, identificar e trabalhar essas crenças é fundamental para a reestruturação cognitiva e para a mudança de padrões emocionais e comportamentais. Como se forma a crença de desamparo? Geralmente, essa crença se desenvolve a partir de experiências precoces marcadas por: Falta de apoio emocional consistente; Superproteção que invalida a capacidade da criança; Falhas em experiências de tentativa e erro (por exemplo, fracassos repetidos sem validação ou orientação); Ambientes instáveis ou caóticos, onde tudo parecia imprevisível. Essas vivências contribuem para que a pessoa internalize mensagens como: “Sou fraco.” “Não consigo lidar com a vida.” “Outros conseguem, mas eu não.” Impactos na vida adulta  Adultos com crença de desamparo tendem a: Evitar desafios, por medo do fracasso; Desenvolver baixa autoestima; Sentir-se paralisados diante de decisões importantes; Ser mais suscetíveis à depressão; Ter maior dificuldade em sair de situações abusivas ou insatisfatórias (relacionamentos, empregos, etc.). Como a TCC trabalha essa crença? Psicoeducação: Ensinar o paciente sobre como crenças moldam seus pensamentos e comportamentos. Registro de pensamentos disfuncionais: Identificar situações que ativam o desamparo. Testes de realidade: Incentivar o paciente a agir apesar da crença (exposição gradual). Experiências corretivas: Criar oportunidades para que o paciente vivencie situações em que tenha sucesso e sinta controle. Resgate de evidências contrárias: Buscar no passado momentos em que ele foi eficaz ou superou dificuldades. Construção de crenças alternativas: Como “Posso aprender a lidar com isso” ou “Sou capaz de me desenvolver.” Crenças nucleares e desamparo aprendido Vale destacar a proximidade entre essa crença e o conceito de “desamparo aprendido” de Martin Seligman. Quando uma pessoa experimenta repetidamente a sensação de que nada que ela faz muda sua realidade, ela pode parar de tentar — mesmo quando, objetivamente, a mudança é possível. A TCC ajuda o paciente a retomar a agência sobre sua vida.
Por Matheus Santos 21 de julho de 2025
Na estrutura da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), poucas construções são tão centrais quanto as crenças nucleares — ideias profundamente arraigadas que o indivíduo tem sobre si, o mundo e os outros. Dentre essas crenças, as de desvalor pessoal são, talvez, as mais comuns e devastadoras na clínica. Elas formam o pano de fundo para uma série de sintomas de transtornos como depressão, transtorno de ansiedade social, transtornos alimentares e diversos quadros de sofrimento emocional. O que são crenças de desvalor? Crenças de desvalor pessoal são ideias centrais negativas que a pessoa tem sobre si mesma. Elas não são simples pensamentos automáticos que surgem ocasionalmente — são verdades absolutas internalizadas, como: “Sou um fracasso.” “Sou inadequado.” “Não tenho valor.” “Nunca serei bom o suficiente.” Elas costumam ser formadas na infância e adolescência, a partir de experiências de rejeição, crítica constante, abandono emocional, bullying, negligência ou comparações desvalorizadoras com irmãos, colegas ou modelos sociais. Como essas crenças se formam? A criança, em um esforço de sobrevivência emocional, tenta entender o porquê de suas experiências dolorosas. Ao invés de pensar que o cuidador está errado, ela conclui: “Se minha mãe não me dá atenção, deve ser porque sou indigno de amor.” Assim, a experiência negativa é interpretada como evidência de que há algo de errado com ela. Com o tempo, essas ideias se tornam o filtro através do qual a pessoa interpreta todas as suas experiências. Um elogio é minimizado (“ele só disse isso por educação”), um erro é supervalorizado (“sou um idiota”), e os sucessos são descartados (“qualquer um teria conseguido”). Como se manifestam na clínica? Pacientes com crenças de desvalor tendem a: Ter baixa autoestima crônica; Ser altamente autocríticos , mesmo diante de pequenas falhas; Sentir-se constantemente inseguros ou inadequados ; Desenvolver padrões de perfeccionismo como tentativa de compensar a crença (“só serei aceito se for perfeito”); Apresentar sintomas depressivos, como desânimo, anedonia e desesperança. Nos quadros de depressão, por exemplo, o paciente pode expressar frases como: “Não importa o que eu faça, nunca vou ser suficiente.” Essa verbalização é reflexo direto da crença de desvalor. É a raiz de interpretações distorcidas e estratégias comportamentais disfuncionais, como isolamento, procrastinação ou autossabotagem. Técnicas para identificar crenças de desvalor Durante o processo terapêutico, o terapeuta cognitivo-comportamental utiliza diversas estratégias para identificar essas crenças, como: Flecha descendente (downward arrow) : técnica de questionamento socrático para acessar camadas mais profundas do pensamento automático. Exemplo: Paciente: “Acho que vão rir de mim se eu apresentar no trabalho.” Terapeuta: “E se isso acontecer, o que significaria para você?” Paciente: “Que eu sou ridículo.” Terapeuta: “E se for ridículo, o que isso diz sobre você?” Paciente: “Que eu sou um fracasso.” Análise de padrões recorrentes : observar as situações nas quais a pessoa se sente inferiorizada ou se autodeprecia. Registro de pensamentos disfuncionais : ajuda o paciente a tomar consciência das interpretações automáticas e de como elas reforçam a crença negativa. Intervenções terapêuticas Uma vez identificada a crença de desvalor, a TCC propõe um processo sistemático de reestruturação cognitiva , que envolve: Psicoeducação sobre o modelo cognitivo e a função das crenças centrais; Testes comportamentais para gerar experiências corretivas que contradizem a crença; Reformulação de significados com base na história de vida (por exemplo, entendendo que o abandono de um pai não diz nada sobre o valor pessoal do paciente); Substituição gradual por crenças alternativas mais realistas e funcionais , como “Eu tenho valor independentemente dos meus erros”. Importante: esse processo é lento e emocionalmente denso . As crenças centrais não mudam com uma simples argumentação racional — elas requerem repetição, evidências concretas, acolhimento da dor e, muitas vezes, a reconexão com aspectos da história de vida que ficaram sem elaboração emocional. Relações com outras áreas da psicoterapia Embora esse conceito tenha origem na TCC tradicional, ele dialoga profundamente com:  Os esquemas disfuncionais precoces , da Terapia do Esquema (Young, 2003); A noção de autoimagem negativa , abordada em terapias de terceira onda, como a ACT; A relação de apego e validação emocional , muito estudada em abordagens integrativas. Caminhos para aprofundamento Se você é psicólogo, estudante ou profissional da saúde mental e deseja aprofundar sua atuação clínica com base nas evidências científicas mais recentes, conheça os cursos do IC&C sobre TCC, Terapia do Esquema e outros temas ligados à psicoterapia baseada em evidências.
Por Matheus Santos 7 de julho de 2025
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Por Matheus Santos 7 de julho de 2025
A fusão cognitiva é um dos processos centrais da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e representa um dos principais alvos clínicos dentro das Terapias Contextuais. Ao entendermos como os indivíduos se relacionam com seus pensamentos, abrimos espaço para compreensões mais sofisticadas sobre o sofrimento humano e intervenções eficazes. Neste artigo, vamos abordar: O que é fusão cognitiva e como ela se desenvolve; Como a fusão contribui para a psicopatologia; Diferenças entre fusão e distorção cognitiva (TCC); Intervenções clínicas baseadas em desfusão; Linkagens com Terapia Baseada em Processos, TCC e Flexibilidade Psicológica; Referências empíricas e chamada para a Formação Permanente do IC&C. Veja também: Terapia Baseada em Processos: um novo paradigma na psicoterapia O que é Fusão Cognitiva? Na ACT, fusão cognitiva é a tendência a se envolver completamente com o conteúdo dos pensamentos, tomando-os como verdades literais, regras fixas ou comandos automáticos. Quando fundido, o indivíduo não enxerga os pensamentos como eventos mentais transitórios, mas como descrições precisas da realidade. Exemplos: Pensamento: "Sou um fracasso" → Fusão: "Logo, não devo nem tentar." Pensamento: "Ela me ignorou" → Fusão: "Ela me odeia." Fusão cognitiva e psicopatologia A fusão está ligada a diversos transtornos: Depressão: Fusão com autocríticas ("Sou insuficiente"); Ansiedade: Fusão com ameaças antecipatórias ("Vai dar tudo errado"); TOC: Fusão com pensamentos intrusivos ("Pensar isso significa que sou mau"); Transtornos alimentares: Fusão com crenças sobre corpo e valor pessoal. A fusão amplifica o impacto dos pensamentos e reduz a capacidade de agir de forma coerente com valores pessoais. Esse aprisionamento à linguagem interfere diretamente na flexibilidade psicológica. Leia também: Terapias Contextuais: uma evolução na abordagem da TCC Fusão x Distorção Cognitiva: qual a diferença? A TCC clássica trabalha com reestruturação cognitiva, ou seja, modificação de distorções cognitivas (erros de pensamento). Já a ACT não busca modificar o conteúdo, mas sim a relação com o pensamento.
Por Matheus Santos 7 de julho de 2025
A Terapia Cognitivo-Comportamental Transdiagnóstica surge como uma evolução natural da prática clínica contemporânea. Com a alta prevalência de comorbidades psiquiátricas, a necessidade de uma abordagem que transcenda categorizações diagnósticas torna-se urgente. A TCC transdiagnóstica propõe modelos baseados em processos psicopatológicos comuns a diversos transtornos, oferecendo eficiência e integração ao cuidado psicológico. Neste artigo, abordaremos: O que é a abordagem transdiagnóstica e como surgiu; Diferenças entre TCC específica e transdiagnóstica; Os principais modelos e evidências científicas; Vantagens e aplicações clínicas; Linkagens com temas como formulação de caso, terapia baseada em processos e raciocínio clínico. ma na psicoterapia O que é a TCC Transdiagnóstica? A abordagem transdiagnóstica busca identificar e tratar processos psicológicos subjacentes que se manifestam em diferentes transtornos mentais. Em vez de protocolos separados para depressão, ansiedade, TEPT ou TOC, por exemplo, ela foca em fatores comuns como: Evitação experiencial; Dificuldades de regulação emocional; Padrões de pensamento rígido ou dicotômico; Comportamentos de segurança. A proposta central é tratar os mecanismos centrais da psicopatologia , o que permite maior eficiência em casos de comorbidades. Veja também: Formulação de caso na TCC: da hipótese à intervenção estruturada Diferença entre TCC tradicional e TCC transdiagnóstica
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