IBGE divulga dados inéditos sobre autismo no Brasil
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O Censo Demográfico de 2022, conduzido pelo IBGE, trouxe pela primeira vez dados sobre pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. De acordo com os resultados, 2,4 milhões de brasileiros — ou 1,2% da população — se declararam com diagnóstico formal de TEA.
Este é um marco inédito na história do levantamento populacional brasileiro. Contudo, mais do que celebrar a inclusão dessa pergunta no Censo, é fundamental uma análise crítica: o que esses dados nos contam — e, principalmente, o que eles silenciam?
Ao olhar atentamente para esses números, surgem questionamentos essenciais sobre viés de gênero, desigualdades raciais e socioeconômicas, além da invisibilidade dos autistas adultos, especialmente aqueles que demandam menos suporte externo (nível 1 de suporte).
Os principais dados do Censo sobre Autismo
- Total de pessoas autistas no Brasil: 2,4 milhões (1,2% da população)
- Prevalência em homens: 1,5%
- Prevalência em mulheres: 0,9%
- Faixa etária com maior prevalência: crianças de 5 a 9 anos (2,6%)
- Distribuição racial:
- Brancos: 1,3%
- Pretos e Pardos: 1,1%
- Indígenas: 0,9%
- Distribuição regional:
- Sem grandes variações, média nacional de 1,2%, ligeiramente menor no Centro-Oeste (1,1%).
Fonte: IBGE, 2024
Por que o TEA é mais diagnosticado em homens? O peso do viés de gênero
O Censo mostra que o TEA é 67% mais prevalente em homens do que em mulheres. Contudo, a ciência já indica que isso não reflete a realidade, e sim um viés construído historicamente nos critérios diagnósticos.
Por que isso acontece?
- Critérios baseados em homens: Desde os primeiros estudos sobre autismo, os parâmetros foram desenvolvidos a partir de observações predominantemente em meninos. Isso gerou instrumentos que não capturam adequadamente as manifestações do TEA em mulheres (Dean, Harwood & Kasari, 2017; Belcher et al., 2023).
- Diferenças na apresentação clínica:
- Meninos: maior frequência de comportamentos externalizantes (hiperatividade, estereotipias motoras, agitação).
- Meninas: predominância de comportamentos internalizantes (ansiedade social, isolamento, depressão).
- Camuflagem (Masking):
Meninas e mulheres autistas desenvolvem estratégias para disfarçar sinais do TEA: imitação social, reprodução de padrões de comportamento, ocultação de desconforto social. Este fenômeno dificulta — ou até impede — que os critérios tradicionais identifiquem o autismo feminino (Estrin et al., 2021; Green et al., 2019). - Diagnóstico tardio:
Mulheres frequentemente são diagnosticadas na vida adulta, muitas vezes após os 30, 40 ou até 50 anos. O próprio Censo sugere isso, pois a diferença entre gêneros se reduz nas faixas etárias mais altas.
🔎 Conclusão: A prevalência menor em mulheres não reflete uma menor ocorrência de TEA, mas sim um provável apagamento estatístico produzido por critérios e práticas clínicas que não consideram suficientemente as experiências femininas no espectro.
Desigualdades raciais no diagnóstico do autismo
Os dados do Censo evidenciam uma prevalência maior em pessoas brancas (1,3%) em comparação com pretos e pardos (1,1%) e indígenas (0,9%).
O que isso significa?
- Não é que haja menos autistas nessas populações, mas sim menos diagnósticos.
- Barreiras estruturais:
- Menor acesso a profissionais especializados.
- Menos serviços de saúde mental em territórios periféricos, quilombolas e indígenas.
- Racismo estrutural que dificulta a escuta qualificada e o acesso ao cuidado.
- Viés cultural:
Profissionais podem interpretar manifestações do TEA segundo referenciais culturais inadequados, levando à subnotificação.
🚨 Assim como no viés de gênero, existe um viés de classe e de raça na forma como o autismo é identificado no Brasil.
Cadê os autistas adultos? A invisibilidade do TEA após a infância
O dado mais alarmante do Censo talvez não seja o número, mas a ausência dele. Onde estão os autistas adultos, especialmente aqueles com nível 1 de suporte?
Fatores que explicam essa invisibilidade:
- Diagnóstico historicamente centrado na infância.
- Adultos com TEA nível 1 passam despercebidos, por possuírem autonomia funcional suficiente para não serem identificados pelo sistema, apesar das dificuldades sensoriais, sociais e emocionais.
- Falta de formação dos profissionais para reconhecer o autismo em adultos.
- Ausência quase total de políticas públicas específicas para essa população no Brasil.
Consequências:
- Subdiagnóstico leva a ausência de direitos e de suporte.
- Impacto direto na saúde mental, na empregabilidade, na vida social e na qualidade de vida.
O ciclo se repete na educação e no trabalho
Apesar da alta escolarização na infância, os números caem vertiginosamente no ensino médio e superior: apenas 0,8% dos autistas chegam ao ensino superior. Isso reflete:
- Barreiras arquitetônicas e atitudinais.
- Ausência de suporte acadêmico.
- Falta de políticas de inclusão efetivas.
- Despreparo das instituições para receber e apoiar pessoas neurodivergentes.
Conclusão: O que esses dados exigem de nós
O Censo de 2022 é um avanço histórico, mas também um espelho das invisibilidades e das desigualdades que estruturam o acesso ao diagnóstico de TEA no Brasil.
É urgente que profissionais da saúde, educação e políticas públicas estejam atentos a três eixos fundamentais:
- Reconhecimento do viés de gênero, com capacitação para identificar o TEA em meninas e mulheres.
- Enfrentamento do racismo estrutural e das desigualdades no acesso à saúde e ao diagnóstico.
- Ampliação do olhar sobre o autismo na vida adulta — o diagnóstico não deve ser uma prerrogativa apenas da infância.
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Referências
- Agência de Notícias IBGE. (2024). Censo 2022 identifica 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo no Brasil. IBGE. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/43464-censo-2022-identifica-2-4-milhoes-de-pessoas-diagnosticadas-com-autismo-no-brasil
- Belcher, H. L., Uglik-Marucha, N., Vitoratou, S., Ford, R. M., & Morein-Zamir, S. (2023). Gender bias in autism screening: Measurement invariance of different model frameworks of the Autism Spectrum Quotient. BJPsych Open, 9(5), e173. https://doi.org/10.1192/bjo.2023.562
- Dean, M., Harwood, R., & Kasari, C. (2017). The art of camouflage: Gender differences in the social behaviors of girls and boys with autism spectrum disorder. Autism, 21(6), 678–689. https://doi.org/10.1177/1362361316671845
- Estrin, G. L., Milner, V., Spain, D., Happé, F., & Colvert, E. (2021). Barriers to Autism Spectrum Disorder Diagnosis for Young Women and Girls: A Systematic Review. Review Journal of Autism and Developmental Disorders, 8(4), 454–470. https://doi.org/10.1007/s40489-020-00225-8
- Green, R. M., Travers, A. M., Howe, Y., & McDougle, C. J. (2019). Women and Autism Spectrum Disorder: Diagnosis and Implications for Treatment of Adolescents and Adults. Current Psychiatry Reports, 21(4), 22. https://doi.org/10.1007/s11920-019-1006-3

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