Neuropsicologia e saúde mental na atenção primária: desafios e possibilidades

Matheus Santos • 11 de abril de 2025

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A Atenção Primária à Saúde (APS) é a principal porta de entrada para o sistema de saúde, sendo responsável pelo acompanhamento contínuo da população e pela prevenção de doenças. No entanto, quando se trata de saúde mental e funcionamento cognitivo, ainda existe um grande hiato entre as demandas dos pacientes e os recursos disponíveis nas unidades básicas de saúde (UBS).


É nesse cenário que a Neuropsicologia pode oferecer contribuições valiosas — desde a triagem de alterações cognitivas até o suporte às equipes multiprofissionais na identificação precoce de transtornos mentais e do neurodesenvolvimento.


Neste artigo, exploramos como a atuação neuropsicológica pode ser integrada à atenção primária, quais são os desafios para sua implementação e quais caminhos vêm sendo trilhados no Brasil e no mundo.


A importância da atenção primária na saúde mental


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 80% dos casos de transtornos mentais leves a moderados poderiam ser manejados na atenção primária, desde que haja estrutura e capacitação adequada.

No Brasil, a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) já reconhece a importância da saúde mental nesse nível de cuidado. No entanto, ainda há desafios relacionados a:


  • Formação profissional limitada na área;
  • Baixa cobertura de psicólogos nas equipes;
  • Pouca articulação entre saúde mental e saúde cognitiva;
  • Dificuldade de acesso a exames especializados, como avaliações neuropsicológicas completas.


Onde a Neuropsicologia entra nesse cenário?


A Neuropsicologia é uma área que estuda as relações entre o cérebro e o comportamento humano, sendo fundamental para a avaliação e compreensão de alterações cognitivas, emocionais e comportamentais.

Na atenção primária, ela pode atuar em:


  • Triagem cognitiva precoce em idosos, crianças ou pessoas com sofrimento psíquico;
  • Apoio ao diagnóstico diferencial de quadros como TDAH, TEA, demências, depressão, entre outros;
  • Educação em saúde e suporte à equipe sobre sinais de alerta neuropsicológicos;
  • Encaminhamentos mais qualificados e racionalização de recursos em saúde.


👉 Leia também: Aplicação e limitações do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM)


Desafios para a atuação neuropsicológica na APS


Apesar das possibilidades, existem barreiras que dificultam a inserção formal da Neuropsicologia na atenção básica:


  1. Desconhecimento por parte de gestores e profissionais sobre o papel do neuropsicólogo;
  2. Falta de instrumentos adaptados à realidade da atenção primária (ex: escalas rápidas, padronizadas e de fácil aplicação);
  3. Infraestrutura insuficiente para avaliações mais longas e detalhadas;
  4. Demanda excessiva e foco em atendimentos emergenciais, o que dificulta o cuidado longitudinal.


Esses obstáculos evidenciam a necessidade de formação qualificada dos profissionais e adaptação de práticas neuropsicológicas ao contexto da APS.


👉 Veja também: Desafios na avaliação neuropsicológica de crianças e adolescentes


Ferramentas neuropsicológicas aplicáveis à atenção primária


Ainda que a avaliação neuropsicológica completa muitas vezes não seja viável na atenção primária, existem instrumentos adaptáveis para triagem e monitoramento, como:


  • MEEM (Mini Exame do Estado Mental);
  • Teste do Desenho do Relógio;
  • Figura Complexa de Rey - versão reduzida;
  • Trail Making Test A e B (para rastreio de funções executivas);
  • Fluência verbal categorial e fonêmica.


Essas ferramentas permitem levantar hipóteses clínicas e indicar a necessidade de investigação aprofundada, otimizando os fluxos de atendimento.


👉 Saiba mais sobre o Trail Making Test na clínica

👉 Leia também: Tudo sobre o Teste do Desenho do Relógio


Casos em que a triagem neuropsicológica pode ser decisiva


👵 Idosos com queixas subjetivas de memória:


Muitos casos de declínio cognitivo leve não são detectados até que se tornem irreversíveis. A triagem precoce pode antecipar cuidados e retardar a progressão de demências.


🧒 Crianças com dificuldades escolares:


Avaliações iniciais podem diferenciar atrasos pedagógicos de transtornos do neurodesenvolvimento, como TDAH e dislexia.


😔 Pacientes com sofrimento psíquico persistente:


Queixas cognitivas em quadros depressivos, ansiosos ou pós-traumáticos são comuns e precisam ser reconhecidas para evitar subdiagnósticos.


👉 Veja também: Como os testes neuropsicológicos ajudam no planejamento terapêutico


Integração com a equipe de saúde da família


A Neuropsicologia na atenção primária não se limita à atuação clínica individual. Ela também pode contribuir para:


  • Capacitação dos profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF);
  • Apoio técnico na construção de fluxos de encaminhamento;
  • Discussão de casos em reuniões multiprofissionais;
  • Atividades de educação em saúde com foco em prevenção cognitiva.


A atuação interdisciplinar fortalece a resposta comunitária às demandas cognitivas e mentais.


Experiências e diretrizes no Brasil


  • O Ministério da Saúde, por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), incentiva práticas integradas em saúde mental, o que abre espaço para a neuropsicologia atuar junto a Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
  • Algumas Secretarias Municipais de Saúde já incluíram psicólogos com formação neuropsicológica em suas equipes de apoio matricial.
  • Programas de rastreio de demência, como os do Projeto Idoso Bem Cuidado, têm usado avaliações cognitivas rápidas com base em critérios da neuropsicologia.


Conclusão


A Neuropsicologia tem um enorme potencial para contribuir com a qualificação da saúde mental na atenção primária. Ao realizar triagens, apoiar equipes e promover intervenções baseadas em evidências, ela amplia o acesso e melhora o cuidado em saúde pública.

Integrar esse saber ao cotidiano da atenção básica exige formação específica, instrumentos adequados e uma abordagem sensível à realidade social e comunitária.


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Por Matheus Santos 3 de maio de 2025
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é uma abordagem de terceira onda que promove a flexibilidade psicológica por meio de seis processos centrais: aceitação, defusão cognitiva, presença, self como contexto, valores e ação comprometida PMC . Com o avanço da telepsicologia, esses princípios têm sido traduzidos em ambientes digitais — os chamados iACT (Internet‑based ACT) — disponibilizados via websites, chatbots e aplicativos móveis. As soluções digitais ampliam o acesso à intervenção, sendo especialmente úteis em contextos de escassez de profissionais ou barreiras geográficas. Além disso, apps permitem coleta contínua de dados e uso de notificações para reforçar o engajamento do usuário Nature . Links internos sugeridos: Para fundamentos de ACT, veja nosso post Terapias de Terceira Onda Saiba como aplicar ACT em grupo: DBT em Contextos Clínicos Evidências de Eficácia de iACT Meta‑análises recentes indicam que intervenções de ACT via internet produzem efeitos pequenos a médios na redução de sintomas de depressão, ansiedade e estresse, além de melhora na qualidade de vida PMC . Por exemplo: iACT reduziu sintomas depressivos e ansiosos com effect size g≈0,30–0,50 em 39 estudos randomizados PMC . Apps móveis baseados em ACT mostraram eficácia no controle de sintomas de PTSD em adultos chineses (n = 200) com redução significativa de sintomas pós‑tratamento ScienceDirect . Revisões de RCTs apontam alta aceitabilidade e taxas de conclusão acima de 70 % em programas web‑delivered ACT para depressão PMC . Esses achados confirmam que iACT é comparável a outras terapias digitais (ex.: TCC) e altamente aceitável para usuários, embora mais estudos comparativos com controles ativos sejam recomendados PMC . Principais Ferramentas e Apps de ACT A seguir, seis soluções digitais de ACT com base em disponibilidade, evidência e design:
Por Matheus Santos 3 de maio de 2025
Dialectical Behavior Therapy (DBT), criada por Marsha Linehan na década de 1980, surgiu para tratar pacientes com transtorno de personalidade borderline (BPD) considerados “difíceis de tratar” por terapias convencionais PMC . Desde então, seu escopo expandiu‑se para diversos quadros: Transtorno de personalidade borderline Depressão resistente Transtorno de estresse pós‑traumático complexo Transtornos alimentares Uso de substâncias O diferencial do DBT é a integração de técnicas cognitivo‑comportamentais com mindfulness e princípios dialéticos — promovendo equilíbrio entre aceitação e mudança Verywell Health . Links internos sugeridos: Veja também nosso pilar Terapias de Terceira Onda Para ACT digital, confira ACT Digital: Ferramentas e Apps 2. Princípios e Componentes Centrais DBT baseia‑se em quatro módulos de habilidades ScienceDirect :
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A neuropsicologia pediátrica visa compreender o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental de crianças e adolescentes, identificando padrões de funcionamento cerebral que impactam aprendizagem e adaptações sociais. Com o aumento de diagnósticos de TDAH, Transtorno do Espectro Autista e dificuldades de aprendizagem, cresce a demanda por avaliações especializadas (Cohen, 2021) ScienceDirect . Para profissionais, dominar protocolos lúdicos e tecnicamente rigorosos é essencial para fornecer diagnósticos precisos e orientar intervenções eficazes. 2. Fundamentos e Importância Durante a infância, ocorrem janelas sensíveis de plasticidade neural, em que intervenções precoces trazem maior impacto no prognóstico (Stiles & Jernigan, 2010) . Avaliações neuropsicológicas pediátricas: Detectam atrasos cognitivos antes que se cristalizem em lacunas de aprendizagem Informam programas educacionais individualizados Apoiam famílias e escolas na implementação de estratégias de suporte Links internos: Veja nossa Pillar Page: Avaliação Neuropsicológica Para comparação, consulte Testes de Atenção Sustentada 3. Aspectos Éticos e Consentimento em Pediatria Consentimento Informado dos Responsáveis Documento escrito explicando objetivos, riscos e confidencialidade. Assentimento da Criança Explicar de forma acessível (“vamos brincar de testar sua memória”) e obter concordância verbal. Proteção de Dados (LGPD) Armazenar registros em ambiente seguro, com acesso restrito à equipe clínica. 4. Seleção de Instrumentos e Adaptações
Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
Introdução à Neuropsicologia Forense A neuropsicologia forense aplica princípios e métodos da neuropsicologia no contexto jurídico, auxiliando em perícias civis e criminais. Cresceu rapidamente nas últimas duas décadas, mas ainda carece de padrões unificados de competência PubMed . Profissionais devem entender o papel da avaliação para mensurar déficits cognitivos, sintomas psicopatológicos e potenciais simulações em processos legais ResearchGate . Para fundamentos de avaliação clínica, veja Avaliação Neuropsicológica Remota Sobre ética em psicologia, confira Ética em Psicologia Clínica Aspectos Éticos e Legais Competência Profissional Siga diretrizes da International Neuropsychological Society e da APA Forensic Guidelines APA . Mantenha formação continuada para atuar em perícias. Consentimento e Confidencialidade Explique o uso dos dados ao avaliado e ao tribunal; registre consentimento por escrito. Atenda à LGPD no tratamento de informações sensíveis. Imparcialidade e Objetividade Evite favorecer qualquer parte. Laudos devem basear-se exclusivamente em evidências obtidas PubMed . Declare conflitos de interesse. Seleção de Instrumentos e Bateria de Testes Para perícia forense, escolha testes com boa sensibilidade para detectar simulação (malingering) e avaliação robusta de funções cognitivas:
Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
A realidade virtual (RV) vem se consolidando como ferramenta inovadora em reabilitação cognitiva, ao oferecer ambientes imersivos que simulam tarefas do dia a dia com alto grau de controle experimental Acta Médica Portuguesa . Diferentemente dos métodos tradicionais, a RV permite manipular estímulos sensoriais e sociais, potencializando a neuroplasticidade e o engajamento do paciente arXiv . Para profissionais de neuropsicologia, entender como estruturar protocolos de RV é essencial para integrar essas tecnologias ao portfólio de intervenções, ampliando o acesso e a eficácia terapêutica. Links internos sugeridos: Para fundamentos de reabilitação convencional, veja Reabilitação Cognitiva Tradicional Entenda princípios gerais em nossa Pillar Page de Neuropsicologia Aplicada Mecanismos Neurobiológicos da RV A RV cria um ambiente enriquecido , estimulando a liberação de neurotransmissores como dopamina e BDNF, que favorecem a plasticidade sináptica Repositório ULusofona . Em ambientes imersivos, o cérebro processa estímulos de forma mais parecida com situações reais, aumentando a validade ecológica das tarefas. Além disso, o uso de multimodalidade (áudio, visual, tátil) em RV permite coletar dados comportamentais e fisiológicos em tempo real — por exemplo, via eye tracking e EEG — possibilitando ajustes adaptativos durante a sessão arXiv .  Revisão de Evidências Científicas
Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
A teleneuropsicologia — ou avaliação neuropsicológica remota — cresceu exponencialmente após a pandemia de COVID-19, mostrando-se viável para diversos perfis clínicos . Vantagens principais: Acesso a pacientes em áreas remotas Continuidade de cuidado em situações de isolamento Economia de tempo e custos de deslocamento Desafios: Garantir padronização de ambiente Manter sigilo e segurança de dados Ajustar normas de escores padronizados presenciais para remoto Links internos: Veja também nosso guia completo de Avaliação Neuropsicológica Para práticas presenciais, confira Testes de Atenção Sustentada Fundamentos Éticos e Legais Consentimento Informado Digital Enviar formulário eletrônico detalhando riscos, benefícios e limites da avaliação remota. Registrar aceite via assinatura digital ou gravação de vídeo. Privacidade e LGPD Usar plataformas com criptografia de ponta a ponta. Armazenar gravações e relatórios em servidores seguros, com acesso restrito. Limitações e Contraindicações Pacientes com déficit sensorial grave sem suporte tecnológico local. Situações de risco suicida ou comportamental agudo sem equipe de apoio presencial. Links internos: Entenda mais em nosso post sobre Ética em Psicologia Clínica Seleção de Ferramentas e Plataformas
Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
Ao longo dos últimos anos, a Psicologia Clínica e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) passaram por importantes transformações, buscando formas de atender melhor pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Nesse contexto, surge a Terapia Cognitiva Orientada para a Recuperação (CT-R) — uma abordagem inovadora, desenvolvida a partir dos fundamentos da TCC, com foco especial em esperança, ativação motivacional e fortalecimento do senso de identidade . Criada por Aaron T. Beck , Paul Grant e colaboradores, a CT-R foi pensada para ir além do alívio de sintomas, ajudando os pacientes a construírem uma vida significativa, mesmo diante de grandes desafios. Neste artigo, vamos entender o que é a CT-R, seus princípios, como ela funciona na prática clínica e por que representa um grande avanço para a saúde mental contemporânea. O que é a Terapia Cognitiva Orientada para a Recuperação (CT-R)? A CT-R é uma evolução da Terapia Cognitiva tradicional, criada para atender pessoas com esquizofrenia, transtornos psicóticos, transtorno bipolar grave e outros quadros severos . Diferente das abordagens tradicionais focadas exclusivamente na redução de sintomas, a CT-R busca despertar o desejo de viver plenamente , atuando sobre as paixões, interesses e objetivos de vida de cada indivíduo. O foco é empoderar o paciente , e não apenas controlar os sintomas. Seus pilares centrais incluem: Esperança na recuperação ; Fortalecimento da identidade positiva ; Ação baseada em valores e desejos pessoais ; Ativação motivacional constante ; Promoção da autonomia e autodeterminação . 👉 Veja também: As contribuições da neurociência para a evolução das ondas da TCC Princípios fundamentais da CT-R O paciente é mais do que seu transtorno : a CT-R trabalha para recuperar a identidade e os sonhos que muitas vezes ficam obscurecidos pela doença. Foco em pontos fortes, não em déficits : a terapia ativa talentos, interesses e motivações internas. Ativação e prática são essenciais : pequenos passos em direção a objetivos importantes aumentam o senso de agência e autoconfiança. Recuperação é possível : mesmo em condições graves, a transformação é real e possível. Construção do “Eu Ativo” : promover um senso de si baseado em escolhas, valores e participação ativa no mundo. Como funciona a CT-R na prática clínica? A CT-R é estruturada em torno de um processo de ativação personalizada : Identificação de paixões e interesses : o terapeuta explora com o paciente suas fontes internas de motivação (ex: música, culinária, esportes, cuidado com animais). Definição de metas e micro-metas : objetivos claros, factíveis e conectados com valores pessoais. Criação de um plano de ação : estruturado para promover experiências de sucesso. Superação de obstáculos internos : técnicas cognitivo-comportamentais são usadas para lidar com pensamentos desmotivadores, crenças limitantes e medos. Reforço positivo contínuo : cada pequena vitória é celebrada e consolidada. Para quem a CT-R é indicada? Pessoas com esquizofrenia ou transtornos psicóticos crônicos; Indivíduos com transtorno bipolar severo ; Pacientes com histórico de hospitalizações psiquiátricas frequentes ; Casos de desesperança, desmotivação e isolamento extremo ; Pessoas em programas de reabilitação psicossocial ; Cenários emergentes: ansiedade severa, depressão resistente e trauma complexo . Benefícios da CT-R Aumento da motivação e iniciativa pessoal; Redução de comportamentos de isolamento e apatia; Melhora da autoestima e autoconfiança; Redução de hospitalizações psiquiátricas; Reconstrução de laços sociais e familiares; Retorno a atividades significativas (trabalho, estudo, lazer). 👉 Veja também: Como a ACT promove a flexibilidade psicológica Evidências científicas sobre a CT-R Pesquisas iniciais e ensaios clínicos randomizados demonstraram que a CT-R: Melhora o funcionamento global e a qualidade de vida de pessoas com esquizofrenia (Grant et al., 2012); Reduz significativamente a gravidade de sintomas negativos (apatia, anedonia) — considerados de difícil manejo; Promove engajamento duradouro em tratamentos e reabilitação social. Além disso, estudos mostraram que pacientes em programas baseados na CT-R demonstraram maiores taxas de independência e reinserção social em comparação com abordagens tradicionais focadas apenas em sintomas. Exemplo de estudo de caso (fictício) 👨 Pedro, 32 anos Diagnóstico: esquizofrenia com sintomas negativos predominantes (isolamento, falta de motivação); Intervenção: identificação de paixão por jardinagem, definição de micro-metas semanais (regar plantas, participar de oficinas de cultivo); Resultados: Aumento progressivo da participação social; Melhora no humor e na autoestima; Redução de sintomas de isolamento e desesperança. Como se capacitar em CT-R? Cursos internacionais ministrados pela Beck Institute for Cognitive Behavior Therapy (EUA); Manuais e publicações científicas sobre CT-R (em inglês, atualmente); Integração gradual dos princípios da CT-R na prática clínica de TCC tradicional. 👉 Veja também: Treinamento de terapeutas em ACT: um guia para iniciantes Conclusão A Terapia Cognitiva Orientada para a Recuperação (CT-R) representa uma evolução ética, clínica e humana dentro das terapias cognitivo-comportamentais . Ela amplia o foco da intervenção para além da remissão de sintomas, investindo na recuperação da identidade, na ativação da esperança e no florescimento do potencial humano . Com a CT-R, a clínica deixa de perguntar apenas "quais sintomas você apresenta?" e passa a perguntar: "Quais sonhos você ainda quer realizar?" Quer se aprofundar em abordagens inovadoras como a CT-R e transformar sua prática clínica? Participe da Formação Permanente do IC&C e esteja entre os profissionais que fazem a diferença, com ciência, sensibilidade e propósito.
Por Matheus Santos 21 de abril de 2025
Quando uma criança ou adolescente passa a evitar sistematicamente a escola — com choro, queixas físicas, crises de ansiedade ou até isolamento social — estamos diante de um fenômeno que exige atenção clínica: a recusa escolar .  Mais do que um comportamento isolado, a recusa escolar pode ser expressão de sofrimento emocional, dificuldades cognitivas, quadros ansiosos ou conflitos familiares , e sua condução requer sensibilidade e um olhar multidimensional. Nesse contexto, a avaliação neuropsicológica torna-se uma ferramenta poderosa para identificar os fatores envolvidos e direcionar intervenções eficazes e integradas. O que é recusa escolar? A recusa escolar se caracteriza por uma resistência significativa em frequentar ou permanecer na escola , geralmente acompanhada de sofrimento psicológico evidente. Não se trata de rebeldia ou negligência, mas de um sinal clínico multifatorial , que pode incluir: Medo intenso de separação; Ansiedade social; Dificuldades de aprendizagem; Bullying ou trauma escolar; Transtornos do neurodesenvolvimento; Desorganização familiar ou mudanças bruscas na rotina. Quando suspeitar de recusa escolar com base clínica? Queixas somáticas frequentes antes do horário escolar (dor de cabeça, enjoo, dores no corpo); Choro ou crises de pânico diante da ideia de ir à escola; Faltas frequentes ou evasão silenciosa; Alta seletividade em contextos sociais; Ausência de interesse por atividades escolares, apesar de gostar de aprender; Melhora rápida dos sintomas em casa ou aos finais de semana. 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica na ansiedade infantil A importância da avaliação neuropsicológica A avaliação neuropsicológica é essencial em casos de recusa escolar por diversos motivos: Identifica o perfil cognitivo e emocional do indivíduo; Diferencia causas primárias (ansiedade, depressão, TDAH, TEA) de causas secundárias (conflitos escolares, bullying, ambiente disfuncional); Permite compreender os impactos da ausência escolar no desenvolvimento acadêmico; Subsidia o planejamento terapêutico e pedagógico personalizado; Dá voz à criança ou adolescente por meio de observações indiretas e análise contextual. O que avaliar? Funções cognitivas gerais : Atenção, memória, raciocínio lógico, linguagem; Funções executivas (planejamento, inibição, flexibilidade). Aspectos emocionais e afetivos : Sintomas ansiosos, humor deprimido, autoestima; Regulação emocional e tolerância à frustração. Habilidades sociais e adaptativas : Participação em grupos, interação com pares e adultos; Grau de independência nas atividades diárias. Motivação escolar e autorregulação : Relação da criança com tarefas, rotina e responsabilidades; Percepção de autoeficácia. Instrumentos recomendados Cognitivos: WISC-V ou Leiter-3 (quando há barreiras verbais); Torre de Londres, TMT A/B, Stroop Test ; RAVEN – Matrizes Progressivas (complemento não verbal). Comportamentais e emocionais: CBCL (Child Behavior Checklist) ; Inventário de Ansiedade Infantil (MASC) ; Inventário de Depressão Infantil (CDI) ; Escala de Autorregulação Escolar . Sociofamiliares: Entrevistas com pais, professores e equipe pedagógica ; Vineland Adaptive Behavior Scales (para crianças com suspeita de TEA ou DI); Questionários sobre clima escolar e relacionamento com pares . 👉 Leia também: Como medir funções executivas na prática clínica Estudo de caso (fictício) 👧 Mariana, 10 anos Queixa: recusa para ir à escola há 3 meses; episódios de choro e dores de barriga diárias. Avaliação: WISC-V, CBCL, entrevistas com escola e pais. Achados: Inteligência dentro da média; Elevados índices de ansiedade de separação e evitação social; Traços de perfeccionismo e autocrítica intensa. Hipótese clínica : recusa escolar por quadro ansioso internalizante, com componentes de ansiedade social e medo de desempenho. Encaminhamentos : psicoterapia cognitivo-comportamental, plano de retorno escolar gradual, acolhimento familiar e escolar com estratégias colaborativas. Comorbidades comuns à recusa escolar Transtorno de Ansiedade de Separação Ansiedade Social Fobia escolar Depressão infantil Transtorno de Aprendizagem TDAH Transtornos de comportamento TEA Boas práticas na devolutiva Acolher o sofrimento emocional com escuta ativa; Evitar rótulos como “preguiça”, “drama” ou “frescura”; Validar as emoções da criança e da família; Compartilhar os achados com clareza e empatia; Propor um plano de intervenção escolar colaborativo , com passos pequenos e realistas; Recomendar psicoterapia baseada em evidências , quando necessário. Conclusão A recusa escolar é um fenômeno complexo que exige um olhar clínico, ético e contextualizado. A avaliação neuropsicológica amplia a escuta, organiza o entendimento das causas e aponta caminhos viáveis para reconstruir o vínculo entre o aluno e o ambiente escolar. Mais do que um laudo, a neuropsicologia oferece um mapa de possibilidades — para que cada criança possa voltar a aprender com segurança, pertencimento e autonomia. Quer aprender a avaliar e intervir em casos complexos como recusa escolar, TDAH, TEA e ansiedade? Participe da Formação Permanente do IC&C e domine os instrumentos, critérios clínicos e estratégias práticas para atuar com excelência e sensibilidade.
Por Matheus Santos 21 de abril de 2025
O mutismo seletivo é um transtorno de ansiedade caracterizado pela incapacidade consistente de falar em determinados contextos sociais , apesar da capacidade preservada de comunicação verbal em outras situações. Por exemplo, a criança pode conversar normalmente com familiares em casa, mas permanecer completamente em silêncio na escola ou diante de pessoas menos familiares. Embora raro, o mutismo seletivo é frequentemente mal compreendido ou confundido com timidez extrema, autismo, recusa escolar ou até desinteresse , atrasando intervenções adequadas. A avaliação neuropsicológica, quando bem conduzida, é uma ferramenta poderosa para entender esse quadro , identificar comorbidades e orientar estratégias sensíveis e eficazes. O que é o mutismo seletivo Segundo o DSM-5, os critérios diagnósticos para mutismo seletivo incluem: Incapacidade consistente de falar em situações sociais específicas nas quais há expectativa de fala (por exemplo, na escola), apesar de falar em outras situações; Interferência com o desempenho educacional ou ocupacional ou com a comunicação social; Duração de pelo menos um mês (não limitado ao primeiro mês de escola); A falha em falar não se deve à falta de conhecimento ou conforto com a linguagem exigida na situação; A dificuldade não é melhor explicada por um transtorno da comunicação (por exemplo, transtorno de fluência) ou por outros transtornos do neurodesenvolvimento, esquizofrenia ou transtorno psicótico. Quando suspeitar de mutismo seletivo? A criança fala normalmente com familiares , mas não fala em sala de aula ou com colegas; Evita interações sociais que exijam fala (como apresentações, leitura em voz alta, responder chamadas); Permanece em silêncio por meses ou anos em contextos escolares, mesmo com bom desempenho acadêmico; Apresenta respostas ansiosas intensas diante da expectativa de comunicação verbal; Usa estratégias alternativas de comunicação (olhar, gestos, escrita) para evitar falar. 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica em crianças com TDAH  Diferença entre mutismo seletivo, timidez, ansiedade social e TEA
Por Matheus Santos 20 de abril de 2025
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que impacta a comunicação, a interação social e os padrões de comportamento. Ao contrário do que se acreditava no passado, o autismo não é uma condição única ou homogênea — ele se manifesta de formas muito diversas, exigindo um olhar sensível, técnico e individualizado. A avaliação neuropsicológica no TEA é uma das ferramentas mais potentes para entender o funcionamento global da pessoa autista , identificar comorbidades e orientar estratégias terapêuticas e educacionais baseadas em evidências. Neste artigo, você vai entender: O que caracteriza o TEA segundo os manuais diagnósticos; Como a avaliação neuropsicológica contribui para o diagnóstico e intervenção; Quais funções cognitivas, sociais e adaptativas devem ser avaliadas; Quais testes e estratégias são recomendadas; Como comunicar os resultados de forma ética e acolhedora. O que é o Transtorno do Espectro Autista? De acordo com o DSM-5 , o TEA é caracterizado por: Déficits persistentes na comunicação e na interação social em múltiplos contextos; Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades ; Os sintomas devem estar presentes desde o início do desenvolvimento ; Devem causar prejuízo clínico significativo; E não serem melhor explicados por deficiência intelectual isolada ou atraso global do desenvolvimento. O CID-11 adota uma estrutura similar, mas enfatiza a variabilidade de apresentação clínica , especialmente no que diz respeito ao uso da linguagem e à presença de deficiência intelectual associada. Por que a avaliação neuropsicológica é essencial no TEA? A avaliação neuropsicológica no TEA não é feita para “confirmar” o diagnóstico , mas sim para: Compreender o perfil funcional e cognitivo da pessoa autista ; Identificar pontos fortes e áreas de suporte ; Detectar comorbidades comuns , como TDAH, transtornos de aprendizagem, ansiedade ou depressão; Subsidiar planos terapêuticos, educacionais e intervenções específicas ; Apoiar o processo de adaptação curricular, inclusão escolar e orientações familiares . 👉 Veja também: Como interpretar testes neuropsicológicos de forma contextualizada Quais habilidades devem ser avaliadas? Funções cognitivas gerais : Inteligência verbal e não verbal Memória de trabalho Raciocínio lógico Atenção e funções executivas Habilidades adaptativas : Comunicação funcional Independência nas atividades diárias Participação social Aspectos socioemocionais : Habilidades de reconhecimento e regulação emocional Compreensão de intenções e metáforas Rigidez comportamental e interesses específicos Pragmática da linguagem e interação social : Uso social da linguagem Capacidade de manter conversas Interpretação de gestos, expressões faciais e pistas sociais Testes e instrumentos recomendados Inteligência e raciocínio: WISC-V ou WAIS-IV Leiter-3 (quando há dificuldades de linguagem) RAVEN - Matrizes Progressivas Coloridas Funções executivas e atenção: Torre de Londres Trail Making Test (TMT A/B) Stroop Test Span de dígitos e Corsi Linguagem e pragmática: ABFW - Teste de linguagem infantil Provas de linguagem funcional e narrativa Avaliação de inferência social e metáforas Habilidades adaptativas e sociais: Vineland Adaptive Behavior Scales Escala de Responsividade Social (SRS) CBCL / TRF / BASC-3 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica na deficiência intelectual Estudo de caso (fictício) 👦 Lucas, 7 anos Queixa: dificuldade em interações sociais e comportamento repetitivo. Avaliação: WISC-V, Torre de Londres, SRS, Vineland, entrevistas com pais e escola. Resultados: QI verbal e não verbal dentro da média; Dificuldades marcantes em flexibilidade cognitiva e atenção conjunta; Perfil adaptativo compatível com TEA leve, sem deficiência intelectual. Encaminhamentos : intervenção comportamental, treino de habilidades sociais, apoio escolar com mediação pedagógica e suporte psicológico para a família. Comorbidades frequentes no TEA TDAH : impulsividade, desatenção e hiperatividade; Ansiedade social e fobias específicas ; Transtornos de aprendizagem (especialmente dislexia e discalculia); Transtornos do sono e da alimentação ; Depressão (mais comum na adolescência e vida adulta) . A avaliação neuropsicológica ajuda a diferenciar sintomas que fazem parte do espectro daqueles que representam comorbidades importantes a serem tratadas separadamente. TEA x TDAH x TANV x TDC: principais diferenças
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